OPINIÃO | MEIO AMBIENTE
2 set 2011 | * Eduardo Athayde | Em carta ditada ao presidente americano Franklin Pierce, no ano de 1854 – hoje adotada pela ONU como ode à sustentabilidade – o chefe Seattle, chocado com a proposta feita para compra da terra dos índios, profetizou: "Os rios são nossos irmãos saciam nossa sede. Os rios levam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se vendermos nossa terra para vocês, devem lembrar de ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos, e devem ter para com os rios o mesmo carinho que têm para com seus irmãos."
> © COPYRIGHT VILAS MAGAZINE | FOTO DE ROGÉRIO BORGES EM 09.05.2008
> Família sobe o rio Joanes, no trecho que vai de Buraquinho a Portão, em Lauro de Freitas,
A história registra a relação dos homens às margens dos rios. “...Nunca se dão bem... o vizinho a jusante acusa o outro, a montante, de poluir a água na sua propriedade”, esta é a reclamação comum através dos tempos. Nossa cultura linguística reflete essas raízes ancestrais: A palavra “rivalidade” vem do Latim, rivalis, “aqueles que usam o mesmo rio”.
Hoje, com a crescente escassez de recursos hídricos, o consumo médio de água (para os que têm) é de 500 litros/dia numa casa de quatro pessoas. No Brasil, para esta quantidade de água ser disponibilizada é necessário a captação de 1.000 litros no rio, gerando 50% de desperdício entre captação e consumo. Como ficará nas próximas décadas? Em países desenvolvidos que já lutam contra a escassez hídrica, 600 litros são captados para prover os 500 litros necessários.
No relatório Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil 2011, divulgado pela Agência Nacional de Águas (ANA), a maioria dos rios, lagoas e reservatórios com água ruim ou péssima está próxima a regiões metropolitanas. Apesar da má qualidade da água nas bacias de grandes centros urbanos, a ANA considera que houve avanços pontuais em alguns casos, diretamente ligados a investimentos em saneamento e tratamento de esgoto.
A água de um rio é considerada de boa qualidade quando apresenta menos de mil coliformes fecais e menos de dez microorganismos patogênicos por litro (causadores de verminoses, cólera, esquistossomose, febre tifóide, hepatite, leptospirose, poliomielite etc.). A contaminação por resíduos sejam eles agrícolas (de natureza química ou orgânica), esgotos, resíduos industriais, lixo ou sedimentos vindos da erosão, além de minimizada, pode usar engenharia reversa para gerar produtos e serviços consumidos pela sociedade.
A capacidade ecológica da Terra não está aumentando, mas a pegada humana está. Com o avanço do conhecimento, as oportunidades podem ser encontradas na inteligência nova dos econegócios, que focam na sustentabilidade gerando lucro social, econômico e ecológico de forma integrada.
Qual o impacto de crescimento da população humana da Bacia do Joanes nos últimos anos?
No parecer técnico da Cetrel, referente a amostra coletada do Rio Joanes sob a ponte da Estrada do Coco, “Os resultados das análises indicam elevada carga orgânica e ocorrência de indicadores de contaminação por esgotos urbanos, registrando Coliformes Totais e Termotolerantes acima da referência da resolução CONAMA 357”. Balanço contábil revela que para cada 1 real investido em esgotamento sanitário, o custo da saúde pública para sociedade é diminuído em R$ 4.
Contudo, os problemas e potencialidades da Bacia do Joanes, responsável por 40% do abastecimento de água de Salvador e Região Metropolitana, precisam ser observados no contexto mais amplo. Sem a visão holística, ficamos reféns de percepções locais distorcidas, construção de argumentos fragmentados e planejamentos descolados da realidade ampliada, deixando escapar oportunidades em volta.
Qual o déficit habitacional atual e as necessidades de moradia dos habitantes da área de influência da Bacia do Joanes para as próximas décadas? A indústria da construção civil nacional tem um desafio de construir 23 milhões de novas habitações nos próximos 10 anos em todo país, com investimentos da ordem de R$ 3 trilhões. Hoje, para alavancar recursos, a indústria precisa alinhar-se com os marcos regulatórios de mitigação da crise climática, já adotados por todas as instituições financeiras, a exemplo da Caixa Econômica Federal. A Caixa informou no Relatório de Sustentabilidade 2010 a emissão 48,5 mil toneladas de CO², as ações que está fazendo para a mitigação própria e como está agregando esses valores aos seus financiados.
Além de rio limpo e moradia decente, os habitantes da Bacia do Joanes têm, entre as suas necessidades, direito ao ar limpo. Um homem adulto inspira cerca de 10 mil litros de ar por dia e cada carro pequeno emite, em media, 10 toneladas de CO²/ano. Quantos carros novos passaram a circular na área na última década? Ao contrário da água que pode passar por tratamento prévio para tornar-se potável, não é possível controlar a qualidade do ar no momento do consumo, o que evidencia a importância do monitoramento para preservação da sua qualidade.
Empresas do Pólo Industrial de Camaçari, como a Ford que financia o Carbon Mitigating Initiative, já estão focadas na descarbonização e podem ser parceiras qualificadas para ajudar no planejamento da Bacia do Joanes, atendendo as necessidades correntes e futuras. O PIB da área de influência do Joanes é o maior do Estado da Bahia. Aí está o problema e também a solução.
Parcerias com o State Water Resources Control Board, da Califórnia, por exemplo, poderão dar norte e impulsionar as ações locais. Com um PIB de US$ 2 trilhões e responsável por 14% do produto interno bruto dos Estados Unidos, a Califórnia é a sétima economia do mundo. Transbordando em riquezas, é líder nacional na produção de leite, carne bovina e hortifrutis granjeiros. O valor total dos produtos da agropecuária californiana é o maior do setor no país, mesmo assim o setor primário responde apenas por 2% do PIE do Estado. Com 89 mil fazendas, muitas irrigadas, os californianos buscam na ciência e tecnologia desenvolvimentos e inovações para o agronegócio e está aberta para parcerias com a Bahia.
O setor secundário responde por 18% do PIB da Califórnia. A indústria de computação e alta tecnologia é a maior do setor de todo os EUA. O valor total dos produtos só desse segmento industrial é de US$ 100 bilhões (o PIB da Bahia é de US$ 75 bilhões). Líderes na geração de eletricidade usando fontes renováveis de energia eólica e solar, os californianos enxergaram nos mapas de sol e de vento da Bahia potenciais para o desenvolvimento de um polo energético. No setor terciário está a grande força da economia californiana, respondendo por 80% do PIB, um universo pulsante de novos empregos verdes gerados pela força econômica empurrada pela geração de conhecimentos e por inovações tecnológicas.
A Universidade da Califórnia é a maior universidade pública dos Estados Unidos, possui dez campi com mais de 400 mil estudantes, é considerada uma das melhores instituições de ensino superior público dos EUA e emprega mais vencedores do Prêmio Nobel do que qualquer outra instituição de ensino superior do mundo. Parcerias com a Bahia, trazendo recursos para pesquisas, transferências de tecnologias e intercâmbio entre professores e estudantes é o que querem as universidades de lá e as de cá. A Califórnia tem muito a contribuir com a Bahia, transferindo conhecimentos, tecnologias e recursos para a promoção de negócios sustentáveis, geradores de emprego e renda, ajuda a transformar preservação em PIB, uma lucrativa relação de parceria para a sustentabilidade.
O recém inaugurado laboratório Cita (Centro de Inovação e Tecnologia Ambiental) da Cetrel, de classe mundial, equiparável a qualquer laboratório sua categoria no mundo, dispõe de equipamentos de ponta para simulação de processos de reuso de água, valorização de resíduos e compósitos que utilizam fibras naturais, sendo um importante equipamento a serviço dos econegócios. Como será que a geração presente vai entregar a Bacia do Joanes aos seus filhos, comandantes das próximas décadas? Talvez um diagnostico prospectivo, levantando problemas e soluções, batizado de "Joanes 2030", possa ser um caminho a ser seguido.
Dos nove municípios que integram a bacia, Lauro de Freitas – por ser o “município foz” – é o mais impactado pela concentração de dejetos trazidos pelo trabalho dadivoso do rio que ao doar água, limpa tudo por onde passa. Prover sustentabilidade por meio de seus ativos, é a formula que a natureza encontra para ensinar aos municípios, as corporações e à sociedade organizada, a gerar econegócios.
Após 75 quilômetros percorridos prestando serviços vitais, consciente do dever cumprido, o Joanes chega mais uma vez à sua foz para entregar-se ao mar. Sábio, o mar abraça e recicla o rio, enquanto o sol aquece-o elevando em nuvens. Limpo e carregado pelo vento o Joanes chove de volta, gota por gota, enchendo seu leito, revelando ao homem a inteligência da natureza refletida pelo chefe Seattle "... tudo que fizerem à Terra, recairá sobre os filhos da Terra...", cumprindo o ciclo contínuo da vida.
* Eduardo Athayde é diretor do WWI - Worldwatch Institute no Brasil
Bom dia, Santo Amaro de Ipitanga
A edição de setembro da Vilas Magazine começa a circular no dia dois destacando em editorial a marca de 200 edições. Outro tema de destaque é o fim da coleta de lixo que a prefeitura sempre fez no pequeno comércio. O fim do serviço público está embasado em lei federal de 2010 que prevê responsabilidade compartilhada entre o poder público e o empresariado, deixando a regulamentação a cargo dos municípios. Em Lauro de Freitas, é uma lei de 22 anos atrás que estabelece o limite de 100 litros ou 500 kg para o que pode ser considerado “lixo domiciliar”. Qualquer coisa acima disso seria “responsabilidade do estabelecimento comercial”. Em Salvador, o limite é de 300 litros por dia.
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Editorial | 200 edições |
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A existência de imprensa local independente é um marcador do desenvolvimento socioeconômico | |||||||
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Obras na Priscila Dutra cancelam 'rallye' | Prefeitura deixa de coletar lixo no pequeno comércio | Veja as capas dos principais jornais |
A coleta de lixo agora se tornou um luxo para nós, comerciantes |
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Thalita Cáceres, lojista que passou a tratar o lixo por conta própria depois que a prefeitura deixou de coletar no pequeno comércio. |
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