OPINIÃO | VILAS DO ATLÂNTICO
1 mar 2012 | Antiga meca da classe média soteropolitana, Vilas do Atlântico passou de bucólico local de veraneio a poço de problemas cercado por ainda mais problemas nos bairros vizinhos. A violência urbana seria o principal deles. Hoje, a própria associação de moradores pede socorro.
Rogério Borges
Basta dar uma olhada no mapa eletrônico do Gabinete de Gestão Integrada Municipal, dedicado à segurança pública, para perceber que Vilas do Atlântico continua a ser uma ilha de privilégios se comparada ao mar de ocorrências nos bairros vizinhos e no restante da cidade. Não acontecem no perímetro das três portarias, por exemplo, os assassinatos que fazem de Lauro de Freitas um destaque nacional do setor. O caso é que a desgraça alheia nunca aliviou as dores de ninguém.
A criminalidade que afeta os moradores – poucas vezes expressa em boletins policiais – vem sendo combatida principalmente à base do verbo. Enquanto a Polícia Militar se desdobra para cobrir o cada vez mais denso perímetro sob sua responsabilidade, a Sociedade de Amigos do Loteamento de Vilas do Atlântico (Salva) tenta convencer os moradores a contribuir para a vigilância privada. Já lá se vão cerca de dez anos.
O cenário só faz piorar, mas a comunidade segue a martelar o mesmo verbo, como se pela repetida oração o milagre viesse a materializar-se. Habituada, a sociedade encontra-se em estado de gestão de crise, perdida em meio a um literal tiroteio, sem qualquer projeto válido no horizonte.
As políticas públicas – que as há, insuficientes ou não, das ações do Pronasci às Bases Comunitárias de Segurança – são tratadas como assunto externo à realidade da classe média, como se fossem medidas de contenção da periferia. Inexiste a noção de que a segurança em Vilas do Atlântico depende diretamente da segurança no restante da cidade – segurança num sentido amplo, não policialesco.
Segurança no sentido que lhe dá, por exemplo, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD): segurança econômica, alimentar, ambiental, pessoal, comunitária e política. A violência “ocorre quando há discriminação, preconceito, repressão social e inversão de valores humanos”. Parece mero palavrório das Nações Unidas, mas a abordagem policialesca produziu até aqui resultado nenhum.
Conforme publicou a Vilas Magazine há dois meses, o PNUD explica que a violência é um fenômeno que tem muitas causas e não uma causa isolada. Não está na figura suspeita que deve ser constrangida a ausentar-se das ruas. Está no déficit de organização social, na presença de fatores de risco, na violência contra a mulher, crianças e idosos, nos contextos sócio-urbanos inseguros e, por fim, na insuficiência policial e da Justiça, no crime organizado.
Apesar de todas as evidências, ainda que a realidade nos esbofeteie diariamente, continuamos a acreditar que um muro mais alto resolverá o problema. Ou que o verbo virá redimir a omissão: protesto, logo faço a minha parte. Limitamo-nos a enxugar gelo.
Ou há segurança (pública) para todos ou nunca haverá segurança (privada) que chegue. Nada mudará, a não ser para pior, enquanto a classe média não se der conta disso com clareza. A alteração dessa realidade passa, necessariamente, pela ação do Poder Público, esse saco de pancadas. Espancar pelo verbo, contudo, tem efeito limitado. Em geral, limitado à autocomiseração.
Bom dia, Santo Amaro de Ipitanga
A edição de setembro da Vilas Magazine começa a circular no dia dois destacando em editorial a marca de 200 edições. Outro tema de destaque é o fim da coleta de lixo que a prefeitura sempre fez no pequeno comércio. O fim do serviço público está embasado em lei federal de 2010 que prevê responsabilidade compartilhada entre o poder público e o empresariado, deixando a regulamentação a cargo dos municípios. Em Lauro de Freitas, é uma lei de 22 anos atrás que estabelece o limite de 100 litros ou 500 kg para o que pode ser considerado “lixo domiciliar”. Qualquer coisa acima disso seria “responsabilidade do estabelecimento comercial”. Em Salvador, o limite é de 300 litros por dia.
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Editorial | 200 edições |
Jornais do dia |
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A existência de imprensa local independente é um marcador do desenvolvimento socioeconômico | |||||||
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Cidade | Serviços |
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Obras na Priscila Dutra cancelam 'rallye' | Prefeitura deixa de coletar lixo no pequeno comércio | Veja as capas dos principais jornais |
A coleta de lixo agora se tornou um luxo para nós, comerciantes |
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Thalita Cáceres, lojista que passou a tratar o lixo por conta própria depois que a prefeitura deixou de coletar no pequeno comércio. |
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