POLÍTICA | ENTREVISTA
05 ABR 2013 | Márcio Paiva (PP) completa no dia 21 de abril 111 dias de mandato em Lauro de Freitas pedindo a compreensão dos que cobram resultados imediatos. “Eu não sou milagreiro, não posso em 90 dias mudar a concepção de 50 anos”, lembra o prefeito. “Eu preciso da ajuda das pessoas, imploro que as pessoas entendam que esta cidade pode ser a melhor cidade do mundo, desde quando a gente tenha concepção de mudança”, completou.
MEIO AMBIENTE: prefeito quer cobrir o leito do Rio Ipitanga
ao longo da avenida Beira Rio para criar área de lazer e estacionamento
VERTICALIZAÇÃO: aumento do gabarito de prédios de nove para 15 pavimentos
poderá ser permitido
POLUIÇÃO DOS RIOS: prefeito prega conscientização dos moradores
antes de aplicar multas
OBRAS PARADAS: problema reside na identificação de contrapartidas sociais
que ainda não foram cumpridas
TRÂNSITO: prefeitura flagrou motorista do transporte público
“que dirigia bebendo”
> © COPYRIGHT VILAS MAGAZINE | FOTO 01.02.2013
Apesar do curto espaço de tempo, Márcio Paiva apresentou também os primeiros resultados da sua gestão, por exemplo na área de regulação da saúde – o sistema que otimiza o acesso aos serviços públicos de assistência, distribuindo a demanda pelos recursos disponíveis. “Estamos mudando a Regulação”, adiantou o prefeito. “Estamos abrindo agora às 6h, vamos pegar a demanda reprimida e fazer os mutirões de saúde”, prometeu.
Nessa área, avisa o prefeito, “a demanda sempre será maior que a oferta”. Para ele, a obrigação do gestor público é “saber disso, ter a informação e resolver o problema”. E acrescenta: “as pessoas vão entender que eu vou resolver [os problemas] passo a passo, confiem em mim que eu vou resolver”.
Outro resultado recente é a melhora da merenda escolar. “Temos relatórios diários” da situação, conta o prefeito. “Eu preciso saber o que as crianças estão comendo, eu mando levar lá para eu comer, eu não como em restaurante chique não”, avisa. “Eu sou do povão, eu sou do gueto, eu sou da Itinga, eu sei onde eu ando, eu conheço o Chafariz, conheço a Lagoa dos Patos, conheço Portão”, completa.
Na área de saúde como em outros setores, Márcio Paiva identificou problemas que todos os prefeitos, pelo menos desde Roberto Muniz, há mais de quinze anos, já apontavam. A sobrelotação das unidades de saúde de Lauro de Freitas é um deles. “Nós atendemos entre janeiro e fevereiro 15,8 mil pessoas no [hospital municipal] Jorge Novis”, conta Márcio Paiva – “desses, 7,8 mil pessoas são de fora do município de Lauro de Freitas”. O problema é que a verba é destinada ao setor, pelo Governo Federal, em função da população residente no município, sem contabilizar a população de São Cristóvão, Itapoan ou Mussurunga, em Salvador, que faz uso das unidades de Lauro de Freitas. A solução passa por “uma gestão compartilhada com Salvador”, volta a propor Márcio Paiva.
Outro antigo problema na área de saúde é garantir a segurança dos profissionais que atendem em Areia Branca, como a Vilas Magazine já noticiou algumas vezes. Por causa da violência, há anos tem sido difícil convencer médicos a trabalhar na região. De fato, o prefeito faz um “apelo ao governo do Estado para que a gente possa dar segurança no bairro de Areia Branca, onde estamos com dificuldade de ter médicos por causa da segurança pública”.
Márcio Paiva explicou ainda que a Unidade de Pronto Atendimento 24h (UPA) de Itinga, cujo edifício foi inaugurado no final do ano passado, aguarda solução para uma questão relativa a contrapartidas sociais. “Ali há três contrapartidas de aproximadamente R$ 1 milhão de que ninguém sabe, ninguém presta contas”, disse o prefeito. “Já foi comprado todo o material [equipamento médico] e está tudo enferrujado, tudo acabado”, lamentou. “Nós precisamos dar uma resposta ao povo de Itinga, à sociedade de Lauro de Freitas, [dizer que] a UPA é um dos maiores absurdos que nós encontramos”, disse.
Em dezembro último, ao inaugurar o edifício, o então secretário municipal de Saúde Luis Carlos Galvão disse que 80% dos equipamentos já haviam sido adquiridos. De acordo com a prefeitura, os equipamentos que faltavam seriam comprados “com a terceira parcela dos recursos” que seriam “liberados no início de janeiro”. Construída pelo município em parceria com o Ministério da Saúde, a unidade vai atender urgências e emergências.
Entretanto, Márcio Paiva adianta outros planos para Itinga: “a partir do dia 31 de julho nós vamos construir o hospital pediátrico para interagir com a UPA, aproveitar o [hospital] Jorge Novis e construir um hospital para procedimentos cirúrgicos de média complexidade”, contou. “E estamos encaminhando para aquele local mais uma unidade básica do SAMU, para Itinga, Parque São Paulo, Areia Branca”. Além disso, a prefeitura está “reformando e ampliando as UBS [Unidades Básicas de Saúde]”.
Na área de Cultura, Márcio Paiva adianta planos para retomar um projeto semelhante ao que houve nas gestões de Roberto Muniz e Marcelo Abreu, o “Valores da Terra”, gravando em CD produções de artistas locais. Além disso, planeja organizar o projeto “Concha Acústica aos Domingos”. O prefeito quer criar “uma companhia de dança afro, de ballet, uma companhia de teatro, uma banda sinfônica, uma banda de sopro” e enfatiza que “precisamos dar dignidade às pessoas”. Uma parceria com a Base Aérea já garantiu que 100 estudantes da rede pública municipal passem lá um turno.
Os problemas com os contratos temporários de servidores não concursados continuam na pauta do município. “Eu fui notificado pelo Ministério Público que eu não posso ter mais contratos temporários”, contou o prefeito. Márcio Paiva quer qualificar a mão de obra local para que eles “tenham um emprego que não seja da prefeitura“. Desde 2011 o município estava obrigado a dispensar os servidores temporários e a realizar concursos públicos, quando foi assinado um Termo de Acordo e Compromisso com o Ministério Público. Para o prefeito, a responsabilidade é da gestão de Moema Gramacho (PT), “que assinou esse TAC”.
> © COPYRIGHT VILAS MAGAZINE | FOTO 01.02.2013
Vilas Magazine: Normalmente se faz contas dos primeiros 100 dias de governo. O senhor escolheu marcar 111 dias por causa do 11 [número do Partido Popular nas urnas], obviamente. Qual é o balanço que o senhor faz desse período?
Márcio Paiva: Vou começar pelos problemas que encontrei. Primeiro, nós pegamos a cidade imunda, suja, sem respeitabilidade às pessoas que moram dentro do município. A cidade estava toda acabada, sem dignidade, as pessoas ficavam tristes porque a cidade estava esquecida, as políticas públicas estavam esquecidas. Nós temos que resgatar a dignidade da cidade. As pessoas precisam começar a confiar na cidade. Isso é que dá trabalho. As pessoas precisam confiar que a cidade de Lauro de Freitas precisava de uma mudança. Qual é o nosso objetivo principal? Além da mudança do trabalho, é resgatar a confiança na cidade.
E como é que o senhor tem feito isso nesses 111 dias?
Com trabalho, só com trabalho. O mais importante de tudo é que no primeiro dia nós fomos para as ruas mostrar que a cidade tinha que ter uma mudança de atitude. Atitude é tudo na vida. Mostramos à cidade que nós estávamos mudando pelo menos a limpeza. Montamos uma “operação limpeza”. Hoje a cidade está limpa, bonita, as pessoas têm a dignidade de andar na cidade. Foi um trabalho de três meses. Isso custou caro à dignidade das pessoas, ninguém gosta de viver no lixo, com os ratos.
Além da limpeza, a secretaria de Infraestrutura fez um levantamento das obras que estão paradas. O senhor já tem um ponto da situação em relação a essas obras?
Primeiro, a Infraestrutura é que cuida da micro e macrodrenagem e da limpeza de córregos. Nós temos, infelizmente, que lamentar a morte de milhares de peixes no Rio Sapato, que presenciamos através da reportagem da Vilas Magazine. A gente lamenta a irresponsabilidade do governo anterior, mas nós partimos para essa mudança e hoje os peixes conseguem respirar. Quando se fala de infraestrutura fala-se de micro e macrodrenagem. É que os córregos estavam cheios de areia. A gente tinha uma cidade que não respondia ao efeito chuva. Eu não dormia porque tinha medo, porque chuva é uma coisa que aparece de uma hora para a outra. Pode chover num dia o que não choveu no ano todo.
Então a mortandade de peixes tem a ver com a falta de limpeza do Rio Sapato?
Não tenha dúvida disso. É falta de conservação. A limpeza dos rios, a parte da poluição, isso aí a gente vai fazer um trabalho. Eu estive há pouco tempo na Salva e as pessoas questionavam isso [leia aqui]. A gente tem que multar os condomínios ou a gente tem que educar? Acho que esse é um papel importante da gestão.
O laudo que a Vilas Magazine encomendou ao Senai-Cetind atesta o lançamento de esgoto doméstico no Rio Sapato.
O esgoto doméstico é mais um apetrecho do processo da mortandade dos peixes, mais um. Nós tínhamos os peixes sem respirar. O que é que nós temos que fazer? Além da responsabilidade, as pessoas podem mudar a cidade desde que elas queiram. A educação não é dada pelo individual, é dada coletivamente. Se as pessoas entenderem que nós vamos mudar o mundo, nós vamos mudar. Se as pessoas entenderem que nós não vamos mudar o mundo, nós não vamos mudar. Na Salva me disseram “é esgotamento” [doméstico, no rio]. Eu disse: se vocês quiserem que eu multe todos os condomínios que estão jogando esgotamento dentro do rio, a gente multa. E cada um vai poder criar a sua fossa. Mas isso é de um mês para o outro ou a gente tem que fazer um trabalho durante um período para que as pessoas tenham consciência?
Existe um planejamento da sua gestão para trabalhar ao longo dos anos a conscientização do morador?
É como eu disse: a conscientização é individual, de cada condomínio. Eu não posso chegar agora e entupir [tamponar] o canal em que sai o esgotamento sanitário. Ou a gente parte para o diálogo ou para a multa, para a austeridade. Eu tenho três meses de gestão e acho que temos que priorizar o diálogo. Eu tenho um planejamento para a cidade. A nova Lauro de Freitas tem planejamento para as obras de infraestrutura, para o meio ambiente. A cidade vai ser construída de forma planejada, a Lauro de Freitas do futuro.
Quando você pega uma cidade, primeiro [trata da] limpeza urbana de modo geral, a que você vê a olhos nus, a segunda é aquela que está dentro da boca de lobo. Temos um problema crônico que são as chuvas. Nós estamos cercados pela barragem (quando enche abrem as comportas) independente da vontade da praia, que pode estar cheia e não sair a água e inundar a cidade. Nós temos que fazer a nossa parte. Nós invadimos todas as áreas públicas, nós não temos terrenos férteis, que a água deságue, desça. O que é que nós podemos fazer de opção? Nós temos aí vários projetos, como o do córrego dos Irmãos, a cobertura do Rio Ipitanga, com a limpeza que a gente possa aumentar a área pluvial do rio. É esse planejamento que nós precisamos.
A população toda já sabe que é errado jogar esgoto [não tratado] nos rios. O senhor tem vontade de punir esses que jogam por água abaixo todo o trabalho de limpeza que venha a ser feito?
Primeiro a gente tem que educar. As pessoas que serão punidas não têm condições nem de pagar uma multa. O que temos de fazer é um trabalho de conscientização. Tudo o que você fizer com a natureza ela vai fazer de volta com você. É um trabalho de conscientização. Eu acho que a gente terá sucesso. Não terá sucesso a 100%, mas em grande parte das pessoas que, no fundo querem ter amor a Lauro de Freitas. A gente só tem amor a alguém quando ela respeita. E as pessoas perderam a respeitabilidade da cidade. As pessoas perderam o encanto da cidade porque a cidade infelizmente ficou morta durante esse tempo. Esta cidade precisa de amor e carinho. As pessoas precisam entender que Lauro de Freitas pode ser a cidade dos olhos do mundo, basta a gente querer.
Ao entrar em campanha, o senhor sabia dos problemas que a cidade tinha, sabia o que ia encontrar. Quais são os pontos que o senhor vai tratar?
O maior problema hoje da cidade é resgatar a dignidade das pessoas. As pessoas têm que voltar a gostar da cidade, a sentir que a cidade está mudando. De que forma? Atitude. O que é mudar a atitude? É mudar a forma de pensamento. Nós tínhamos uma cidade que era meramente empregabilidade, onde as pessoas viviam do custeio da empregabilidade da prefeitura. Nós temos que mudar essa realidade. Lauro de Freitas é uma cidade emergente e crescente. Nós precisamos trazer empresas que tenham responsabilidade social, empregar o nosso povo. Esse é o maior desafio hoje. As pessoas precisam comer. Eu ando na cidade, conheço a cidade toda. Atendi durante 15 anos 60 mil pessoas. Olho nos olhos das pessoas e vejo que as pessoas passam fome. Esse é o meu maior sentimento de tristeza. A cidade não se preparou para o crescimento, não se deu uma postura humana, que é dar empregabilidade para as pessoas. As pessoas passam fome nesta cidade.
Nós precisamos qualificar os nossos jovens, qualificar as pessoas, oportunizar à cidade. Temos 180 mil habitantes, 40% da cidade não precisa das políticas públicas da cidade, não precisa da Saúde e da Educação [públicas], uma cidade privilegiada. Nós temos um lado da cidade que sofre com a violência, somos a terceira cidade mais violenta do Estado da Bahia. Essa é a nossa realidade. E a sétima cidade em violência [contra] a mulher.
Esse é o legado que eu peguei agora. Eu tenho que mudar essa realidade de que forma? Com trabalho, com dignidade, dando oportunidade às pessoas de trabalhar. A gente não pode ter mais os nossos jovens se perdendo nas ruas e largando as escolas porque não tem estímulo de estar nas escolas. Nós temos que estimular os jovens a estar nas escolas, a sentir prazer, orgulho de estar dentro da escola. Com muito trabalho a gente vai conseguir isso.
O mais importante de tudo hoje é qualificar a nossa sociedade para o futuro. Não daqui a dez anos, mas daqui para 50 anos. Com estudo, com pesquisa, com dinâmica e acima de tudo com a ajuda dos empresários que têm esse comprometimento social. Pode contar comigo no que for, dentro do perfil da legalidade, da facilidade, de gerar o imposto e trabalhar para a cidade. Mas o empresariado hoje tem que ter responsabilidade social. Nós não podemos permitir hoje que a empregabilidade seja desqualificada, infelizmente por uma herança maldita que nós pegamos. Temos que responsabilizarmo-nos, a nós políticos, nós gestores. Eu vou mudar essa realidade, com vontade de fazer.
Voltando às obras que estão paradas na cidade, o senhor já tem um ponto da situação sobre isso? Por exemplo, o desvio do Canal dos Irmãos, a mais urgente porque se avizinha a estação das chuvas, em que pé está?
Nós pegamos uma cidade voltada para o ilusionismo. Eu vim para mostrar a realidade da cidade. A realidade é que se chover hoje, [a cidade] para. Nós temos o [desvio do] córrego dos Irmãos, que é um projeto importantíssimo, que está parado infelizmente, que custa de R$ 11 milhões a R$ 15 milhões, não se sabe hoje [quanto] porque a cada dia que passa o custeio aumenta.
Por que é que está parado [o projeto]?
Nós entramos agora e estamos tentando reativar o projeto. Um dos projetos mais importantes hoje é dragar o Rio Ipitanga. Não adianta desmatar e fazer uma limpeza superficial. Está parado porque a cidade está parada em grandes obras. Quais foram as grandes obras que fizeram? Eu vou lhe dar essa resposta daqui a mais três meses porque eu vou lhe dizer as condições em que nós pegamos o córrego dos Irmãos, os terminais [de ônibus do Centro e de Portão] que não acabaram. Nós tivemos convênios que não tiveram fiscalização. O empresário vem para fazer uma obra de convênio, pega o filé. O que é o filé? A área melhor. E a prefeitura não tinha a capacidade de fiscalizar que nós temos agora. Não adianta você pegar o filé e deixar o osso para fazer depois. Você mede e recebe [pelo que já foi feito], depois pode dizer que está em concordata e não fazer mais a obra. Isso aconteceu com vários convênios que nós tentamos resgatar para acabar a obra. Vá ver a obra do loteamento Horto Florestal, uma vergonha, está parada. As pessoas construindo em cima dos córregos. Esta cidade não tinha fiscalização.
Então ainda não está finalizado esse levantamento do ponto da situação das obras que estão paradas.
Eu vou dizer quantas contrapartidas tem, quanto já se gastou. Você falou do córrego dos Irmãos. É um projeto que precisa de um financiamento de que nós estamos correndo atrás, através do PAC2. Aquela inundação da Luiz Tarquínio melhoraria sensivelmente, não acabaria. O que acontece hoje quando alaga é que não tem onde desaguar.
Então o que está faltando é liberar a verba para fazer o desvio do córrego?
Sim. Já existe o projeto e nós vamos agora dar entrada no PAC para que a gente possa trazer esse dinheiro para fazer a obra. Em relação aos terminais, temos o de Portão que está lá há quase dois anos vai-que-não-vai e nós estamos fazendo um estudo.
Essa obra também está parada, não é?
Está parada. Vou lhe explicar bem claro: nós temos um projeto na cidade chamado contrapartida social [Lei das Contrapartidas sociais, que exige a construção de equipamentos públicos por empresas que recebem alvarás de construção]. As empresas ajudam nessas obras de grande porte. Se você vem com a verba carimbada, é para fazer a obra. Se você precisa mais, pede aditamento ou dá uma satisfação à sociedade. Nós temos hoje três contrapartidas dentro da obra de Portão. Essas contrapartidas não aparecem no orçamento. Cadê o dinheiro das contrapartidas? Nós estamos com a obra de Portão parada porque a contrapartida sumiu. Gastou como? Prestou contas a quem? Não prestou contas.
O que falta é a verba das contrapartidas?
O que falta é que as pessoas que fizeram o acerto, que eu não sei [qual foi] com a prefeitura anterior, cumpram com o acerto.
E qual era o acerto?
Eu não sei. Nós já solicitamos [a informação, mas] a gente não sabe o que foi feito. Eles dizem que foi para fazer o piso, mas a gente não tem como provar porque é a palavra deles contra a nossa. Então nós estamos esperando para ver o que é que vai acontecer para que a gente possa se posicionar. No [terminal rodoviário do] Centro, a contrapartida foi cumprida. Fizemos a obra e vamos melhorar, com sanitários para portadores de deficiência física, masculino e feminino, vamos asfaltar a rua. Não está na contrapartida, mas nós temos o dever de asfaltar aquele espaço para melhorar a viabilidade daquele local. Em Portão a gente está fazendo um estudo econômico para saber da contrapartida. Quanto se gastou ali, de que forma foi. É uma caixa preta.
Quando o senhor chama os empreiteiros [da obra do terminal rodoviário de Portão] e pergunta por que é que a obra não anda, o que é que eles dizem?
Eles dizem que já cumpriram a contrapartida social. Um passa para o outro, que passa para o outro.
Eles estão esperando que a prefeitura ponha dinheiro [na obra]?
Eles estão esperando que a [gestão anterior da] prefeitura tivesse a dignidade de mostrar onde é que se gastou dinheiro da contrapartida, de que forma se gastou, onde gastou e quais são as empresas que têm [devem] contrapartidas. Nós estamos esperando que as empresas que estavam lá trabalhando continuem fazendo o seu trabalho para que a gente possa, efetivamente, acabar a obra. A gente não sabe quanto foi gasto efetivamente naquela obra. Nós recebemos essas obras às cegas, não foi prestado contas dessas obras.
O senhor mencionou uma “cobertura do Rio Ipitanga”. Está em perspectiva cobrir o Rio Ipitanga?
A perspectiva é que o metrô chegasse até a Insinuante [no Km 3,5 da Estrada do Coco]. Se chegar, vai ser uma obra importante.
A ideia é que o metrô passe por cima do Rio Ipitanga?
A ideia é que o metrô passe pelo lado, não por cima. Em cima nós teríamos mais um espaço numa cidade de 59 Km2. O Centro está totalmente congestionado, cheio de carros. A proposta é fazer ali um estacionamento, para que as pessoas parem o carro e possam ir para o Centro de Lauro de Freitas e fazer as suas compras ou passear. A nossa proposta é que, além de fazer toda a estrutura da lateral do Rio Ipitanga, a gente possa fazer a cobertura. Já tem um recurso de R$ 180 milhões que nós estamos trabalhando.
Ainda que o metrô passe pelo lado, o senhor acha que a parte central, do leito do rio, deve ser coberta para ampliar o espaço útil, é isso?
Eu acho que tem que ser coberta, porque ali não existe mais um rio [despoluído].
Qual seria o trecho a cobrir? Desde a Estrada do Coco?
Desde a Estrada do Coco [no Km 1, altura da via alternativa] até a Insinuante [no Km 3,5, ao longo da avenida Beira Rio]. Doar aquela área para lazer da comunidade.
O senhor quer fazer como na avenida Centenário, em Salvador [onde um córrego foi canalizado]?
Como na Centenário, Vasco da Gama, Bonocô, Imbuí. Um espaço de convivência, com quiosques, parques, academias ao ar livre. É um sonho que a gente está trabalhando e com essa Copa do Mundo a gente tem que trazer obras relevantes.
Por falar em trânsito, existe um plano para fazer fiscalização de trânsito em Lauro de Freitas?
O gestor público tem que ter atitude e coragem, mas não pode ser impositivo, ditatorial. Nós fizemos um trabalho educacional durante um mês e meio [no Centro]. A placa está lá, “não estacione” e a pessoa estaciona. Isso é [questão de] educação ou exercício da cidadania. Isso a gente não muda de uma hora para a outra. A gente muda de duas formas: com coragem, mostrando às pessoas que nós podemos mudar a cidade pelo exercício da cidadania, que nós temos que valorizar Lauro de Freitas, dizer que essa cidade é nossa, tomar conta dela, dizer que essa cidade pode, deve, tem tudo para mudar e a gente tem que resgatar a confiança das pessoas – ou através de multa. Eu primeiro faço um apelo educacional.
Numa cidade em que você tem uma obra, da [Lojas] Marisa, construída sem alvará, não teve o “habite-se” e eles queriam inaugurar, parte-se do princípio que essa cidade é injusta. Por que a [Lojas] Marisa não teria que ter o “habite-se” e não teria que ter o alvará? A [concessionária de veículos] Indiana tem um terreno público envolvido ali, foi construída a obra e, pior, tinha um “habite-se” antes de acabar a obra. Qual a respeitabilidade dessa cidade, onde o governo era conivente com a coisa errada, onde o governo não se respeitava?
Por que é que ninguém consegue resolver o problema das sinaleiras na entrada de Vilas do Atlântico?
Nós temos sinaleiras que são falsificadas. Aquela sinaleira que tem a contagem de tempo [na esquina da Luiz Tarquínio com o Varandas Tropicais], a antiga gestora trouxe material falsificado, eu não consigo abrir a caixa para que a gente possa tomar conta. Se eu for trocar, custa R$ 250 mil. Se eu tiver dez, são R$ 2,5 milhões. Essa é a nossa realidade. Nós temos ônibus que param fora de lugar porque, infelizmente, levaram oito anos, vinte anos, parando fora do lugar. Eu estou [no cargo] há três meses. Tem motorista que dirigia bebendo, que nós já prendemos, nós temos motoristas que não tinham carteira.
[A respeito do transporte público], as pessoas não respeitam o transporte alternativo porque acham que está obsoleto. Eu sou contra a licitação da permissão [para explorar o transporte alternativo] porque essas pessoas estão há muito tempo nesta cidade [desde] quando a cidade era de barro. Hoje o que a gente precisa é dar dignidade aos permissionários, procurar formas de trazermos o financiamento, dar um decreto garantindo a ele cinco anos para que ele possa pegar um empréstimo, colocar e arrumar os pontos de ônibus, para que as pessoas possam entender que este município pode ser diferente. Isso demanda um tempo, tenho três meses. Eu não sou milagreiro, não posso em 90 dias mudar a concepção de 50 anos. Eu preciso da ajuda das pessoas, imploro que as pessoas entendam que esta cidade pode ser a melhor cidade do mundo, desde quando a gente tenha concepção de mudança, desde quando a gente entenda esta cidade como uma cidade futurista e cada um faça a sua parte, não estacione onde não pode estacionar.
Na última reunião com a comunidade de Vilas do Atlântico no auditório do Colégio Mendel o senhor disse que Cláudio Silva [ex-superintendente de Controle e Ordenamento do Uso do Solo (SUCOM) de Salvador] faria uma exposição sobre um plano de urbanização para o bairro. Não houve tempo naquele dia. O que seria esse plano? Está relacionado à via expressa de Vilas à Estrada do Coco?
Não tem nada a ver uma coisa com a outra. A via expressa é um projeto do Estado em que você diminuiria o fluxo de carros na Estrada do Coco. Nós precisamos fazer um estudo do que é positivo e do que é negativo. Às vezes você pode fazer uma via expressa dessas e matar o maior shopping a céu aberto do mundo que se chama Estrada do Coco. Nós temos um estudo de que não mataria a Estrada do Coco.
Em relação a Cláudio Silva, quando eu pedi que ele se pronunciasse, [é que] nós temos Vilas do Atlântico, que é um loteamento de 30 anos que ficou totalmente desorganizado porque perdeu a concepção. O município, através da gestão pública, foi irresponsável. Primeiro, porque não respeitou o TAC [Termo de Acordo e Compromisso do loteamento]. Nós tínhamos todo um projeto para Vilas do Atlântico. Você tem empresas e restaurantes hoje que não têm uma vaga de estacionamento. Na minha gestão não vai acontecer isso. Você vai estacionar no meio da rua? O agente fiscalizador é o poder público, a gente tem que ter responsabilidade por isso.
O que nós queríamos, quando conversamos com Cláudio [Silva], estamos pensando nisso há seis meses – eu sonho com esta cidade – é planejar Vilas do Atlântico. Não sou eu, eu sou médico, estou prefeito. Nós estamos trazendo um especialista para montar uma estratégia para o loteamento de Vilas do Atlântico para dar segurança e mobilidade. Cláudio Silva sonha comigo. Qualquer um pode sonhar comigo. Se você tiver boas ideias, pode trazer. Cláudio Silva é meu amigo, uma pessoa que eu estimo, tenho um carinho especial, mas ele não tem nenhum envolvimento com a prefeitura. Esta cidade precisa de pessoas que sonhem e transformem em realidade. Vilas do Atlântico precisa ser planejada. É um loteamento vovô que precisa de dignidade, segurança e mobilidade.
Como é que se daria essa segurança e mobilidade para Vilas do Atlântico?
Vamos convidar uma empresa ou uma pessoa que entenda de mobilidade e traga um estudo viável para que a gente possa mudar a realidade. Nós não podemos mais permitir que as pessoas sejam assaltadas em Vilas. Mas o problema da mobilidade e de assaltos não é só em Vilas, é em todo o município.
Retirar o muro da rua Praia de Guadalupe [que divide Vilas e o Miragem, questão que está sendo discutida na Justiça] ajudaria a mobilidade no trânsito dentro de Vilas do Atlântico?
Melhoraria, mas quando eu falei isso na reunião [no Colégio Mendel] as pessoas disseram que seria um problema, que seria mais uma abertura, mais uma comunicação entre a área externa e Vilas do Atlântico. Vamos discutir. Eu sou democrático, não sou impositivo. Agora, nós temos que ter coragem, que não me falta, nem vontade de trabalhar. O prefeito tem um compromisso com Vilas, mas mais do que Vilas, o prefeito tem também um compromisso com Itinga e Portão. Hoje, a prefeitura vai trabalhar com quem mais precisa.
Vilas do Atlântico, de todos os bairros de Lauro de Freitas, não seria o mais fácil de combater a violência, uma vez que só tem três saídas?
Quem tem que fazer esse estudo é o governo do Estado. A viabilidade da segurança é do governo do Estado. A minha função aqui é trazer políticas públicas para mudar a realidade diária do município. Nós temos um competente secretário de Segurança Pública, um competente Comandante Geral [da Polícia Militar], Coronel Castro, que é meu amigo pessoal. Eles é que têm que fazer esse estudo. A viabilidade da segurança é um comprometimento do Estado. Eu estive lá com o Comandante Geral no primeiro mês, trouxe o policiamento da BCS [Base Comunitária de Segurança] Móvel para Portão, estivemos com o secretário de Segurança Pública colocando à disposição os nossos funcionários. Compromisso eu tenho com o Governo do Estado, mas estratégia de segurança não é [com] a prefeitura. Nós temos a Guarda Municipal, que cuida do patrimônio público, mas estratégia de segurança quem faz é o governo do Estado. O efetivo é pequeno, o Estado é um grande parceiro, nós somos amigos do governador e contamos com isso. Mas precisa aumentar o efetivo. Esse é o maior problema hoje no município. Nós temos três delegacias, duas Companhias [de Polícia Militar], uma BCS, a Polícia de Choque, a Aeronáutica aqui e nós não conseguimos resolver o problema da segurança. O que falta é políticas públicas e atitude do gestor. Isso nós vamos fazer.
No que se refere à mobilidade urbana, o que causa maior impacto é o adensamento populacional, um processo que o senhor criticou muito nos últimos anos [como vereador]. O senhor inclusive é autor de uma lei que exige o estudo de impacto de vizinhança [para a liberação de alvarás de construção]. Há um projeto de lei, de iniciativa do Executivo anterior, para elevar o gabarito dos prédios de nove para quinze pavimentos em Lauro de Freitas. O que é que o senhor pensa a respeito desse assunto agora?
A questão da mobilidade está diretamente ligada à densidade demográfica. O governo anterior foi irresponsável porque não fez um estudo de impacto de vizinhança, estudando a mobilidade. Construiu-se muito, trouxe gente e não fez nenhuma estrutura física para que melhorasse a mobilidade. Qual é o meu desafio hoje? É criar alternativas de mobilidade através de estudos técnicos para que o cidadão possa ter o direito de ir e vir. Nós temos uma BA que passa por dentro da cidade, a 099, que tem 7,5 Km, que deságua para Camaçari e para Salvador, que fica engarrafada, se possível, 24 horas no dia. Qual é o nosso desafio? Primeiro, melhorar o aspecto de desaguar. Todo mundo que sai de Vilas do Atlântico ou de Itinga deságua onde? O normal é desaguar na Estrada do Coco. Primeiro é fazer um estudo na Estrada do Coco para que a gente possa aumentar a quantidade de pistas, fazer [espaços] de reserva onde os ônibus possam parar, que não influencie no fluxo de carros [leia aqui]. O que nós pudermos fazer para melhorar, vamos fazer.
E quanto ao gabarito dos prédios? O senhor retiraria o projeto de lei?
[O projeto de lei] por mim não foi apresentado. Projeto de lei não pode passar de um ano para o outro.
O senhor reapresentaria esse Projeto de Lei, alterando o gabarito de nove para quinze pavimentos?
Aí nós vamos fazer um estudo. Se for numa área em que não comprometa a mobilidade, estudaremos. A gente não pode dizer que não pode fazer nada ou fazer tudo. Tem que ter bom senso. Não vou construir 15 andares onde você tem duas ruas para sair, mas eu posso construir onde houver mobilidade.
> © COPYRIGHT VILAS MAGAZINE | FOTO 01.02.2013
Bom dia, Santo Amaro de Ipitanga
A edição de setembro da Vilas Magazine começa a circular no dia dois destacando em editorial a marca de 200 edições. Outro tema de destaque é o fim da coleta de lixo que a prefeitura sempre fez no pequeno comércio. O fim do serviço público está embasado em lei federal de 2010 que prevê responsabilidade compartilhada entre o poder público e o empresariado, deixando a regulamentação a cargo dos municípios. Em Lauro de Freitas, é uma lei de 22 anos atrás que estabelece o limite de 100 litros ou 500 kg para o que pode ser considerado “lixo domiciliar”. Qualquer coisa acima disso seria “responsabilidade do estabelecimento comercial”. Em Salvador, o limite é de 300 litros por dia.
| |
Editorial | 200 edições |
Jornais do dia |
||||||
A existência de imprensa local independente é um marcador do desenvolvimento socioeconômico | |||||||
Cidade | Trânsito |
Cidade | Serviços |
||||||
Obras na Priscila Dutra cancelam 'rallye' | Prefeitura deixa de coletar lixo no pequeno comércio | Veja as capas dos principais jornais |
A coleta de lixo agora se tornou um luxo para nós, comerciantes |
|
Thalita Cáceres, lojista que passou a tratar o lixo por conta própria depois que a prefeitura deixou de coletar no pequeno comércio. |
© Copyright Editora Accioli Ramos 1999-2013 | Todos os direitos reservados
Adaptado de design da FTL Wordpress Themes | Bloggerizado por FalconHive.com