ENTREVISTA | POLÍTICA | ELEIÇÕES 2014
01 JUL 2014 | Até bem pouco tempo atrás o eleitorado de Lauro de Freitas caminhava para a eleição de outubro próximo como quem percorre via de mão única: todos os candidatos locais à Assembleia Legislativa faziam parte da mesma aliança, de esquerda, liderada pelo PT, que busca manter o governo do estado por mais quatro anos.
Dos nomes que até junho despontavam como mais prováveis, esgotado o prazo para a oficialização dos nomes, restaram quatro. Três deles – Mirela Macelo e Gilmar Oliveira (PSD), ambos vereadores e Chico Franco (PCdoB) – darão palanque a Rui Costa (PT) e João Leão (PP), candidatos a governador e vice na chapa governista.
O quarto nome surgiu no mês passado, na contramão da onda de apoio ao PT que tomou Lauro de Freitas. Foi quando o deputado federal Antônio Imbassahy convidou o vereador Antônio Rosalvo (PSDB) a representar aqui a chapa liderada por Paulo Souto (DEM) ao governo do estado, concorrendo a uma vaga na Assembleia Legislativa. “Aceitei porque acredito na capacidade de administração dele e entendi que, com ele no governo, minha presença na Assembleia pode trazer benefícios para Lauro de Freitas”, disse Rosalvo.
Com 42% das intenções de voto para o governo da Bahia – contra 11% de Lídice da Mata (PSB) e 9% de Rui Costa (PT) – de acordo com pesquisa do Ibope divulgada em maio, Paulo Souto desponta como franco favorito para outubro.
Apesar disso, em Lauro de Freitas Paulo Souto conta apenas com o apoio de Antônio Rosalvo e de Alexandre Marques (PRP), também vereador, candidato a deputado federal este ano. Já Rosalvo recebeu também o apoio público do prefeito Márcio Paiva (PP), cuja legenda está oficialmente vinculada à candidatura de Rui Costa (PT). “Apoio aquele que melhor atende os interesses do nosso município”, resumiu o prefeito.
A Vilas Magazine ouviu em entrevista os dois candidatos da segunda via em Lauro de Freitas sobre os principais temas que afetam a cidade, atualmente e já há alguns anos, para conhecer a posição de ambos e o que o eleitorado pode esperar deles. Paulo Souto, 70 anos, geólogo de profissão, foi duas vezes governador da Bahia (1995 a 1998 e 2003 a 2006) e Senador da República (1999 a 2002). Antônio Rosalvo (PSDB), 35 anos, advogado, pai de um menino, é vereador de Lauro de Freitas desde 2009. Foi presidente da Câmara Municipal em 2011 e 2012.
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> Paulo Souto, candidato a governador e Antônio Rosalvo, candidato a deputado estadual > VALTER PONTES
> Paulo Souto: avaliação e necessidade de ajustes e viabilidade de expansão do metrô > FOTO DIVULGAÇÃO
> Antônio Rosalvo: "a construção da via expressa é um compromisso meu"
Vilas Magazine – Lauro de Freitas vive há muitos anos um processo de adensamento populacional que traz problemas urbanos típicos, no trânsito, no transporte público, na segurança e outras áreas que envolvem a capital e outros municípios da Região Metropolitana. Que papel o governo do estado pode desempenhar na gestão e encaminhamento de questões que são multi-municipais?
Paulo Souto – É evidente o acelerado crescimento de Lauro de Freitas nos últimos 20 anos. A outrora freguesia de Santo Amaro de Ipitanga, que, em 1962, com a emancipação a município, ganhou o nome do político baiano Lauro Farani Pedreira de Freitas, ainda nos anos 1970 e 1980, era uma pacata e pequena cidade, onde moradores de Salvador mantinham suas casas de veraneio. A partir da década de 1990, o comércio e a indústria ganharam força no município. Com o fortalecimento da economia, veio o adensamento populacional. Com quase 200 mil habitantes, a cidade hoje sofre as consequências do acelerado crescimento. Entendo que o governo do estado pode exercer a coordenação dos municípios envolvidos e dar apoio à solução dos problemas.
Antônio Rosalvo – Eu defendo a instituição de uma nova esfera de governo, um governo metropolitano, acima das prefeituras, com capacidade para dar respostas aos desafios que envolvem os municípios das regiões metropolitanas, inclusive para gerir os repasses para a Saúde e Educação. Dou um exemplo: os postos de saúde de Lauro de Freitas atendem muitas pessoas de Salvador e de Abrantes, em Camaçari, mas o município só recebe os repasses relativos à nossa própria população.
Todos os temas que envolvem a Região Metropolitana deveriam ser tratados numa instância acima das prefeituras. Não se trata de montar mais uma estrutura de governo, cheia de cargos e custos para o erário. Basta organizar como se organiza um conselho, mas com poderes decisórios.
Agora, enquanto isso o governo estadual também pode e deve atuar como “governo metropolitano”, intermediando propostas e soluções, trazendo os municípios para a mesa de discussões.
VM – A linha dois do metrô, antes prometida para alcançar o Km 3,5 da Estrada do Coco, pode mesmo chegar até lá? Um governo Paulo Souto se empenharia em trazer o metrô até esse ponto e futuramente até o Km 7, em Portão?
PS – A questão da mobilidade urbana aflige a todos e impõe aos governos a busca de soluções. O caso específico da Linha 2 do Metrô será alvo de nossa atenção. No caso de eleito, analisaremos o projeto e avaliaremos a necessidade de ajustes e a viabilidade de expansão da linha. Não tenha dúvida que nosso empenho será total por uma Bahia melhor.
AR – Eu acredito na capacidade do governo Paulo Souto, não só para trazer o metrô até o Km 3,5, que foi a nossa conquista na mobilização de 2011, aqui em Lauro de Freitas, mas também para chegar a Portão, que era a nossa meta e continua sendo. A gente está sempre ouvindo que não há verba, que não há verba. Mas governar é trabalhar com a verba que temos e alcançar resultados do mesmo jeito, pela via da gestão eficiente.
VM – A segurança pública é um dos problemas mais graves hoje em Lauro de Freitas, um dos municípios mais violentos do Brasil nos últimos anos. É possível reverter esse quadro? De que forma?
PS – A violência galopante se alastra por toda a Bahia. É um problema grave com o qual não podemos aceitar conviver. Tenho dito que o atual governador deveria ter humildade e pedir desculpas ao povo baiano pela situação calamitosa em que está deixando nosso estado, principalmente quanto aos serviços públicos essenciais, como saúde, educação e a segurança pública. Com relação à criminalidade e violência, acredito que podemos conseguir resultados muito positivos e reduzir a quantidade de assassinatos, que ceifou a vida de mais de 36 mil baianos nos últimos sete anos e meio. Para tanto, pensamos num conjunto de ações, como a melhor distribuição do contingente policial, investimento em tecnologia e estratégias de prevenção ao crime, além do restabelecimento da confiança entre o governo e as polícias civil e militar.
AR – Eu tenho propostas concretas para atuar na área da segurança pública. Algumas dependem diretamente da ação do governo do Estado e por isso estou confiante que poderemos finalmente colocar essa pauta em prática. São oito medidas que venho apresentando faz alguns anos: desacelerar o adensamento urbano, ampliar o sistema de permutas para a segurança pública, ampliar a rede de câmeras de vigilância pública, implantar a legislação do Plano Municipal de Segurança Pública, obrigar a limpeza e fechamento de terrenos baldios, implantar o Conselho Parlamentar de Cultura da Paz, estimular a iniciativa privada de recuperação de dependentes químicos e reforçar a ação institucional.
VM – O trecho da Estrada do Coco que atravessa Lauro de Freitas e que serve de ligação entre todo o Litoral Norte e Salvador, está completamente saturado, quase sempre engarrafado. É viável a proposta de construção de uma via expressa da BA-099 em Camaçari à BA-526 (CIA-Aeroporto), para desviar da cidade esse tráfego externo? Se não, qual seria a solução?
PS – Entendo que seja uma boa solução para aliviar o trânsito no trecho urbano da BA-099, que passa por Lauro de Freitas. A necessidade existe.
AR – A construção da via expressa é um compromisso meu com a população de Lauro de Freitas e vou trabalhar pela viabilização dessa obra até o último dia do meu mandato, seja onde for. A sobrevivência de Lauro de Freitas como cidade com trânsito viável depende dessa via expressa. A Estrada do Coco é uma via urbana e não pode receber todo o tráfego do litoral norte. O desenvolvimento do turismo no Jambeiro, uma importante fonte de renda e emprego, também depende da via expressa. Vamos fazer acontecer.
VM – A gestão do trecho da Estrada do Coco que atravessa Lauro de Freitas foi recentemente cedida pelo governo do estado à prefeitura, pelo prazo de cinco anos. O senhor concorda com essa medida ou retomaria a responsabilidade do estado por esses 7,5 Km?
PS – Embora faça parte de uma estrada estadual, a BA-099, este trecho atravessa uma área urbana. Não vejo problema com a medida.
AR – Na minha opinião, é mais adequado que o município faça a gestão desse trecho porque a Estrada do Coco é uma via urbana de Lauro de Freitas, a mais importante da cidade, como disse antes. Não é mais uma estrada e vamos inclusive corrigir essa nomenclatura. A rodovia, na prática, termina na ponte do Rio Joanes. Agora, a manutenção e qualificação desses 7,5 Km tem custos importantes, não podemos esquecer. Vamos precisar encontrar fontes de financiamento para manter a via em estado de qualidade.
VM – Lauro de Freitas aguarda há anos a retomada das obras da rede de esgotamento sanitário, prometida para 2012, antes devido a problemas relacionados à gestão da obra, agora devido ao desinteresse das empreiteiras. No comando da Embasa, que solução o senhor daria para esse impasse?
PS – Por desconhecer o problema, não posso emitir opinião. Mas entendo ser a obra de fundamental importância, como toda intervenção relacionada ao saneamento básico. No caso de eleito, vamos investigar a questão e buscar uma solução para o impasse.
AR – A obra do Sistema de Esgotamento Sanitário de Lauro de Freitas é uma responsabilidade da Embasa, empresa controlada pelo estado. As dificuldades existem porque a Embasa é uma empresa pública e tem que seguir a regulamentação legal aplicada a todo dinheiro público. Mas é melhor assim do que não haver controle nenhum. Já temos problemas suficientes neste país com o uso de verbas públicas, apesar de todos os controles. Mais uma vez, trata-se de um desafio de gestão. Temos que fazer o necessário com as ferramentas que temos. Eu confio no governo Paulo Souto para chegar lá.
VM – A praia de Buraquinho, em Lauro de Freitas, há anos vive sob a bandeira das águas impróprias para banho devido à poluição dos rios Joanes e Sapato. Que medidas podem ser tomadas, no âmbito do governo do estado, para devolver a balneabilidade à praia de Buraquinho?
PS – Quando governador, pude implementar e desenvolver o Bahia Azul. Além dos efeitos bastante positivos na saúde pública, o programa de saneamento despoluiu as praias de Salvador. Se eleito, faremos um governo comprometido com uma política de saneamento que despolua os cursos de água de nosso estado.
AR – A ação do governo do estado será fundamental para sanear não só o Joanes e o Sapato, mas todos os cursos hídricos de Lauro de Freitas e da Região Metropolitana. Esse é um daqueles desafios para os quais um governo metropolitano estaria talhado, como mencionei antes. Enquanto essa instância de governo não vem, o governo do estado precisa atuar para conciliar políticas municipais e atingir resultados.
Bom dia, Santo Amaro de Ipitanga
A edição de setembro da Vilas Magazine começa a circular no dia dois destacando em editorial a marca de 200 edições. Outro tema de destaque é o fim da coleta de lixo que a prefeitura sempre fez no pequeno comércio. O fim do serviço público está embasado em lei federal de 2010 que prevê responsabilidade compartilhada entre o poder público e o empresariado, deixando a regulamentação a cargo dos municípios. Em Lauro de Freitas, é uma lei de 22 anos atrás que estabelece o limite de 100 litros ou 500 kg para o que pode ser considerado “lixo domiciliar”. Qualquer coisa acima disso seria “responsabilidade do estabelecimento comercial”. Em Salvador, o limite é de 300 litros por dia.
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Editorial | 200 edições |
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A coleta de lixo agora se tornou um luxo para nós, comerciantes |
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Thalita Cáceres, lojista que passou a tratar o lixo por conta própria depois que a prefeitura deixou de coletar no pequeno comércio. |
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