CIDADE | VIOLÊNCIA
15 dez 2011 | Dados do Mapa da Violência 2012, divulgado ontem pelo Instituto Sangari, apontam que Lauro de Freitas apresenta agora a quinta maior taxa de homicídios na Bahia, com 99,1 assassinatos por cada 100 mil habitantes. Dez anos atrás Lauro de Freitas ocupava a posição número 198 (índice 2,6). A classificação reflete a ocorrência de 162 homicídios na cidade apenas no ano de 2010. No ano 2000 foram três.
O aumento na taxa de homicídios em Lauro de Freitas está na contramão da média nacional, que chegou a registrar variação negativa média de 1,4% ao ano entre 2003 e 2010, e supera por larga margem a variação na RMS, no interior da Bahia e em todo o estado (veja gráfico). Entre 2000 e 2010 a taxa de homicídios cresceu 3.651% em Lauro de Freitas, atrás somente de Simões Filho, que registrou um aumento de 4.760%. No mesmo período, a taxa de Camaçari aumentou 256%, a de Salvador 330% e a da Bahia 301%.
Em todo o país, no quesito aumento da taxa de homicídios, Simões Filho e Lauro de Freitas só perdem para o município de Ananindeua, no Pará, que registrou uma morte em 2000 e 744 assassinatos em 2010 – um crescimento de quase 62.000%.
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> Gráfico mostra aumento das taxas de homicídio entre 2000 e 2010 segundo o Sangari | ||
Entre os municípios da Região Metropolitana de Salvador (RMS), apenas Simões Filho apresenta taxas de homicídio superiores às de Lauro de Freitas. O índice do município vizinho é também o maior da Bahia (155), com 183 pessoas assassinadas em 2010. Camaçari ficou em 40º lugar, com 50,6 assassinatos por cada 100 mil habitantes em 2010. De acordo com o relatório, a média anual de mortes por homicídio no país supera o número de vítimas de enfrentamentos armados no mundo. Entre 2004 e 2007, 169,5 mil pessoas morreram nos 12 maiores conflitos mundiais. No Brasil, o número de mortes por homicídio nesse mesmo período foi 192,8 mil. “Fica difícil compreender como, em um país sem conflitos religiosos ou étnicos, de cor ou de raça, sem disputas territoriais ou de fronteiras, sem guerra civil ou enfrentamentos políticos violentos, consegue-se exterminar mais cidadãos do que na maior parte dos conflitos armados existentes no mundo”, diz o documento. Os dados do Mapa da Violência demonstram ainda que os estados que lideravam as estatísticas no início da década, como Pernambuco, o Rio de Janeiro, o Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso, Roraima e Distrito Federal apresentam quedas do índice de homicídios. São Paulo e o Rio de Janeiro apresentam reduções de 63,2% e 42,9%, respectivamente. Por outro lado, os 17 estados com as menores taxas do país no ano 2000 apresentam taxas crescentes. Em vários locais, esse aumento teve tal magnitude que levou os estados a ocupar um lugar de destaque no contexto nacional no final da década. Assim, Alagoas passou a ocupar o primeiro lugar no Mapa da Violência. O Pará passou da 21ª posição para a terceira; a Paraíba, da 20ª para a sexta, e a Bahia, da 23ª para sétima posição. Negros – O Mapa da Violência do Instituto Sangari mostra ainda que, de 2002 a 2010, a taxa de homicídios de negros vem subindo no país, enquanto a de brancos vem caindo. Segundo o estudo, o número de homicídios de brancos caiu de 20,6 para cada 100 mil habitantes em 2002, para 15 em 2010. Já o dos negros subiu de 30 para cada 100 mil habitantes em 2002, para 35,9 em 2010. Os dados mostram que para cada dois brancos vítimas de homicídio em 2002, morreram aproximadamente três negros. Já em 2010, para cada dois brancos assassinados 4,6 negros foram vítimas de homicídio. “É um fato preocupante porque a tendência está aumentando”, diz o coordenador da pesquisa Julio Jacob Waiselfisz. Para ele, “a mídia veicula o que acontece em famílias abastadas e há uma preocupação dos órgãos de segurança com isso”, mas “ninguém noticia que morreram dois negros em uma favela, a não ser que seja uma chacina”. De acordo com ele, a maior violência contra os negros pode ser explicada também pela questão econômica e pela privatização da segurança. “Quem pode pagar, paga a segurança privada, que protege melhor”. Como a população negra é, em média, mais pobre, explica Jacob, passa a depender dos órgãos de segurança pública que, geralmente, não conseguem atender adequadamente a população. “Essas evidências nos levam a postular a necessidade de reorientar as políticas nacionais, estaduais e municipais, em torno da segurança pública, para enfrentar de forma real e efetiva essa chaga aberta na realidade do país”, diz o texto do estudo. Com informações de Daniella Jinkings e Bruno Bocchini (Agência Brasil) |