OPINIÃO | AURÉLIO NUNES *
3 jan 2012 | Quarta-feira, 28 de dezembro, 17h15. Em meio ao congestionamento, o carro de som anuncia a festa pela volta da mão dupla na Avenida Luís Tarquínio: “Foram 12 meses de sofrimento, mas agora vamos esquecer o passado e celebrar 2012. Traga seu rojão, vamos comemorar”.
Foram longos 10 minutos de sofrimento para percorrer o trecho entre a Priscila Dutra e a rótula de Vilas, engatar a segunda marcha e deixar para trás o mantra da vitória da Associação dos Lojistas.
O espetáculo nonsense que sobrepõe interesses corporativos aos da coletividade remete, inevitavelmente, ao caso da Escola Jovina Rosa, onde funcionários e professores se uniram para eleger uma diretora que tinha como único propósito afugentar aqueles que ameaçavam suas vidas mansas.
Assim como os lojistas, tiveram os barnabés a vitória legitimada pelos chamados processos democráticos: no primeiro caso, foram as audiências públicas da prefeitura que nos restituíram o sagrado direito aos engarrafamentos; no segundo, as eleições a dirigente escolar do município que permitiram o resgate do pacto da mediocridade, aquele em que os pais e o poder público fingem que não enxergam que a escola não cumpre seu papel de educar.
Parabéns aos vitoriosos porque se organizaram, lutaram e conseguiram barrar os avanços alcançados em 2011. Enquanto parte derrotada, nós, do MoVa-tE, só temos a lamentar que a expressão da vontade da maioria seja a de não sair do lugar.
Não é por acaso que tenhamos sido defenestrados da Jovina. Para além do desmembramento da sigla – Movimento de Valorização da Escola Pública – MoVa-tE significa mover te a ti mesmo. Fica a constatação iminente de que é mais forte e numeroso o rebanho dos que preferem o imobilismo à mudança, não porque este seja melhor que aquela, mas por puro comodismo.
Agradecemos a todos aqueles que embarcaram conosco nesta utopia, que empenharam seu apoio, emprestaram seu tempo e até mesmo seus recursos na esperança de que assim estariam contribuindo para transformar a escola pública em um espaço de inclusão. E não foi em vão. Durante o ano letivo de 2011, os alunos da Jovina experimentaram um processo de valorização que mudou completamente a face da escola, não somente em sua estrutura física, mas dentro da sala de aula, com a inclusão de aulas de artes, capoeira, inglês, música e educação infantil ministradas por educadores recrutados pelo MoVa-tE, alguns trabalhando voluntariamente, outros remunerados pelo grupo. Nossa mais justa homenagem a todos estes profissionais pela dedicação com que se entregaram ao trabalho.
Aos professores da rede municipal foi oferecido um curso de capacitação em Pedagogia Integradora que durou nove meses, tempo suficiente para despertar a consciência dos educadores selecionadas pela Secretaria de Educação para a necessidade de um novo fazer pedagógico, mas não para as da Jovina. Ilustrativo deste fenômeno foi a enorme resistência sofrida pela professora Maria Aparecida Pereira, que corajosamente assumiu a direção da escola mesmo sem condição legal de disputar a eleição, crente na sua própria capacidade agregadora e na força transformadora do projeto. Cida acabou traída em uma farsa eleitoral montada sobre a candidatura única de uma colega de ofício que durante 11 anos compactuou com o abandono à qual a Jovina foi submetida pelo poder público.
Para nós, mais que uma derrota é um verdadeiro luto deixar a Jovina, mas é o único caminho que nos resta ante à inépcia do poder público em oferecer alternativas ao impasse, legais ou negociadas, apesar de todos os recursos que envidamos nas esferas administrativas e judiciais. Agradecemos ao secretário de Educação Paulo Aquino, que exaltou nossa chegada como 'um gesto político' e saudou nossa saída como a de 'um grupo de pequenos burgueses'. Comunicamos que estamos levando nossos filhos de volta, ainda que a contragosto, para o espaço reservado aos pequenos burgueses, que é o da escola privada.
Agradecemos à prefeita Moema Gramacho, que conosco chorou as lágrimas da indignação ante aos abusos praticados por alguns 'servidores públicos municipais'. Sabemos que foi sincero seu esforço para restituir a moralidade à gestão da Jovina, ainda que não tenha se ocupado pessoalmente da tarefa, como prometeu, não tenha conseguido ser tão ágil, como garantiu, nem tenha levado a cabo a promessa de cobrar explicações de cada um dos subordinados que se rebelaram contra o projeto que ela abraçou.
Nós estamos deixando a Jovina, sim, mas uma parte de nós vai ficar, seja nas reformas estruturais que a prefeitura e a Semed realizaram a nosso pedido, no pátio coberto e na sala extra recém-construídos a partir de nosso projeto, no gramado que a Itograss forneceu e a Musa instalou por nosso intermédio, no parque infantil doado pela Lúdico a partir de nossa solicitação, nas mesas e cadeiras para as crianças da educação infantil construídas a partir de doações por nós recolhidas, no campo de futebol cujas traves nós instalamos, nas manhãs de sol que capinamos o terreno, cortamos a grama ou simplesmente despendemos nosso tempo, energia e alma na intenção de construção de um espaço de convivência diverso para todas os alunos, fossem eles nossos filhos ou não. Estas crianças, como nós, também sentirão saudades da Jovina de 2011.
* Aurélio Nunes é jornalista e membro do MoVa-tE
Bom dia, Santo Amaro de Ipitanga
A edição de setembro da Vilas Magazine começa a circular no dia dois destacando em editorial a marca de 200 edições. Outro tema de destaque é o fim da coleta de lixo que a prefeitura sempre fez no pequeno comércio. O fim do serviço público está embasado em lei federal de 2010 que prevê responsabilidade compartilhada entre o poder público e o empresariado, deixando a regulamentação a cargo dos municípios. Em Lauro de Freitas, é uma lei de 22 anos atrás que estabelece o limite de 100 litros ou 500 kg para o que pode ser considerado “lixo domiciliar”. Qualquer coisa acima disso seria “responsabilidade do estabelecimento comercial”. Em Salvador, o limite é de 300 litros por dia.
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Editorial | 200 edições |
Jornais do dia |
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A existência de imprensa local independente é um marcador do desenvolvimento socioeconômico | |||||||
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Cidade | Serviços |
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Obras na Priscila Dutra cancelam 'rallye' | Prefeitura deixa de coletar lixo no pequeno comércio | Veja as capas dos principais jornais |
A coleta de lixo agora se tornou um luxo para nós, comerciantes |
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Thalita Cáceres, lojista que passou a tratar o lixo por conta própria depois que a prefeitura deixou de coletar no pequeno comércio. |
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